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Quer conversar?

Itabira, 16 de Maio de 2024.


Ei filho,


como você se sente? Eu quero muito saber.


Por muito tempo, você e eu contamos com alguns meios tradicionais e com outros muito curiosos para nos comunicar. Especialmente, já contamos com o "dia da rapaziada". Lembra-se disso? Era o dia dos rapazes -- você e eu -- se divertirem juntos. Presencialmente.


Era a época em que você aprendia e se desenvolvia na bike com a minha companhia. Era também a época em que você me amava: 90 vezes mais; ou 999 milhões de vezes mais do que eu amava você. Era outra época. Sinto falta daquela época que compartilhamos.


Agora é diferente. Estamos em uma época em que eu escrevo uma carta; a coloco em uma garrafa; e a deixo navegar indefinidamente em várias direções. Eu tenho a esperança que ela chegue até você, mas não tenho controle sobre quando ou se ela realmente chegará até você.


Entretanto, caso você pense em me escrever uma mensagem e não possa, eu vou deixar uma garrafa para você. Pode ser?


Por meio da Internet, abaixo desta carta, você vê uma garrafa onde pode escrever para mim. Ninguém vai ver. Só eu posso abrir a garrafa. É só escrever um comentário ali e eu vou receber uma cópia em meu e-mail.


Você pode deixar para dizer-me algo no momento que você julgar mais adequado. Ou seja, não tenho pressa. Estou disponível para você: para ouvir, ler e me esforçar para entender tudo o que você gostaria de me dizer. Eu quero saber como você está; como você se sente; o que você deseja me contar etc.


O que você me contar eu não contarei para ninguém. Eu me comprometo com isso. Qualquer mensagem deixada abaixo desta carta, não aparecerá para mais ninguém. Ela apenas chega até mim e eu posso ler um pouco de você.


É claro que se eu encontrasse uma mensagem sua, dentro da sua garrafa, eu conseguirei escrever sobre outros temas, por meio de outras cartas que eu deixarei aqui. Futuras cartas. Enquanto isso, as cartas atuais e passadas seguirão navegando, e navegando, e navegando, até que você encontre uma, ou duas, ou todas. Ou nenhuma.


Enquanto eu escrevo esta segunda carta eu me encontro observando o meu papel de pai. Com muita sinceridade, eu torço que você, caso tenha a oportunidade de exercer a paternidade, conte com a sorte de ter uma filha ou um filho como você sempre foi. Eu sou seu fã, já te contei isso?


E com muita sinceridade, eu torço que a sua filha ou seu filho também seja sua/seu fã pelo maior tempo possível. Isso não dura para sempre, filho. Aliás, meu menino, isso dura muito pouco. Porém, dura o tempo suficiente. 


Por um lado, você foi meu fã pelo tempo suficiente para aprender a pedalar, para aprender outras coisas, e para guardar para sempre o amor que você recebeu da sua família.


Por outro lado, eu sou seu fã até este momento. O momento em que escrevo esta segunda carta. Foi o tempo suficiente para eu escrever essa carta; guardá-la em uma garrafa; e deixá-la navegar para todas as direções possíveis levando um pouco mais do meu amor para você.


Meu menino, mesmo que esta carta alcance 999 milhões de localidades diferentes, nada do meu amor engarrafado vai se perder. Haverá ainda 999 milhões de vezes mais amor aqui dentro, nesta garrafa, nesta carta, no coração do seu pai. Isso é para você.


Na prática, eu não quero amar você mais do que você me ama, filho. E nem mesmo eu quero amar menos. Eu quero amar igual, na mesma proporção. Ainda assim, eu escolho amar você naquela intensidade em que você me amava no dia da rapaziada, não agora. Pois agora eu não sei o que você sente, filho. Lembra daqueles dias? Era o dia em que a gente desejava igualmente o dia da rapaziada; ficávamos frustrados igualmente quando encontrávamos obstáculos para o dia da rapaziada; ficávamos tristes igualmente quando o dia da rapaziada chegava ao fim; e voltávamos a sonhar juntos pelo novo dia da rapaziada.


Eu te amo 999 milhões de vezes, naquela intensidade, daquela época, meu menino. Na intensidade de um feliz "dia da rapaziada". Torço muito que um dia ainda tenhamos mais um dia daqueles; e torço que você tenha muitos dias daqueles com suas/seus filhas e filhos, caso você tenha a mesma sorte que eu tive de ser pai.


Papai, seu eterno fã.


Cartas do Meu Pai, Carta 2.

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